Olho ao redor. Eu sempre a critiquei por isso. Mãe solteira. Sozinha. Não tinha ambições. Não tinha sonhos muito altos. Mas aqui estava ela. Feliz. Ou estaria feliz se não fosse por mim. Ela tenta me fazer beber o chá, mas eu não quero por nada pra dentro. Meu estômago está embrulhado, estou com enjoado, minha cabeça está doendo e tudo parece incrivelmente surreal. É como se eu estivesse num sonho. As paredes, os quadros, os móveis, tudo estava fora do foco, periférico, minha visão estava turva, o que aumentava mais ainda a sensação de enjoo. Por um segundo sinto que eu vou vomitar. Ela segura em meu braço e eu volto á Terra.
— Você precisa comer. A quimioterapia vai ser difícil e quanto mais forte você estiver...
— Não adianta agora. — Digo. — Eu estou morrendo.
Ela enxuga uma lágrima silenciosamente e suspira.
— Não é hora pra ser criança. É hora de assumir as consequências e parar com esse vitimismo.
— Mas é isso o que eu estou fazendo. Estou assumindo as consequências e assumindo aquilo que cedo ou tarde vai acontecer comigo.
Ela se levanta e tenta conter as lágrimas novamente.
— Você não aprende. Nunca aprende. Nunca aprende que você não precisa ser forte o tempo inteiro. Você não precisa resistir o tempo inteiro. Demonstrar fraqueza não é assumir derrota, é... ser humano.
— Mas eu não sou assim.
— Por querer sempre ser o dono da razão. Nós dizíamos "pare de fumar", mas você achava que nada ia acontecer com você.
— Ao contrário, eu não tinha medo de que isso fosse acontecer comigo.
— Mas você está com medo agora. Você não pode prever seus sentimentos e suas reações perante uma desgraça.
— Morrer não é uma desgraça, é parte da vida.
— É sempre uma desgraça pra quem precisa ficar e aguentar a saudade.
Ela senta no outro sofá perante á mim e cobre o rosto nas mãos enquanto apoia os cotovelos em seus joelhos. Eu levanto e vou até o outro lado. A abraço e sinto ela soluçar.
— Eu vou ficar bem. — Disso.
— Eu sei que vai. — Disse ela com uma voz rouca e abafada pelas suas mãos.
— Você precisa orar. — Disse ela.
— Isso não vai adiantar.
— Mas você nem ao menos tentou.
— Eu respeito a sua fé, mas Deus não existe. É um delírio. É da mente humana acreditar que existem forças misticas e...
— Tem dado certo. Ateus não entendem como funciona. Você não precisa de provas científicas pra acreditar em Deus. Tem funcionado pra nós. Eu não sei como, mas Deus me responde. Eu não sei como, mas eu sinto Ele. Eu não sei como... mas quando eu sigo o que ele diz eu vou bem. Ele me faz feliz, e pode fazer você feliz também.
Eu queria acreditar. Eu queria do fundo do meu coração acreditar. Mas isso não era pra mim. Só funciono com fontes. Informações desse tipo, serão sempre impermeáveis á mim.
— Me prometa que você vai tentar orar.
Eu entrei em conflito.
— Sim.
Neste momento, olho para o lado e encontro a porta entreaberta. Do outro lado, minha sobrinha de sete anos me encara com seus grandes olhos escuros. Eu arrisco um sorriso pra ela. Ela abre a porta lentamente e vai se aproximando de mim....
*-* Necessitada de uma continuação!
ResponderExcluirÉ incrível como muitos de nós humanos só acreditam em certas coisas com provas. Gostei da sua ideia de escrever sobre isso. Como eu já disse; gosto da forma de pensar do seu personagem, mesmo que não apoie o total Ateísmo dele.
Sou cristã, mas acredito nas duas versões de criação do mundo, a bíblica e a cientifica. Parece loucura, mas se você unir as duas formas elas podem parecer coerentes.
Um Abraço, l0nely-star.blogspot.com
Oi, Tom! Adorei o diálogo que o personagem teve com a irmã dele! Continue postando as continuações... Estou adorando "Céu"! :)
ResponderExcluirAbraço
http://tonylucasblog.blogspot.com.br/
aaaaaaaaaaaah, tom! continua logo! estou muito ansioso pra ler o próximo capitulo! será que ele vai orar? o que será que acontecerá entre ele e a sobrinha? aaaaah.. que lindo!
ResponderExcluirmeu D-s ♥
com admiração,
gabryel fellipe
Que maravilhoso!
ResponderExcluirEscolhas Alternativas
AAA que foda
ResponderExcluirme reconheço nesse personagem gent :o
Quero ver o que vai acontecer com a criança, com certeza ela vai falar alguma coisa muito foda porque crianças são fodas
- um monte de estrelas
Li agora toda a estória, e está muito boa. Tô adorando, só não para de escrever não, eim! Rsrs'. Você escreve muito bem, e a estória tem um grande potencial!
ResponderExcluirBeijos, INconvencional!
Ai que bom que você voltou a postar, os seus textos são demais
ResponderExcluirhttp://surejustnot.blogspot.com.br/
Que história maravilhosa, adorei, continue postando. :)
ResponderExcluirhttp://corujasemasas.blogspot.com.br/
Beijos! <3
Ansiooooosa para a continuação, quero saber sobre a sobrinha e o que vai acontecer com o protagonista.
ResponderExcluirEu amei esse texto, olhando pelo lado científico realmente não tem explicaçãoo para o que é Deus, mas Deus é isso, não tem explicação. Posta logo a próxima pate :333
Beijooooooos <3
Http://www.shake-de-morango.blogspot.com
Já li esse post faz bastante tempo, mas não tive tempo de comentar nele. Eu já disse várias e várias vezes eu eu amo o jeito que você escreve, que você escreve bem. Estou gostando muito do rumo dessa história. E estou gostando desse personagem, mesmo que de início ele parecesse que não ia ser um de meus favoritos. Aguardando a mais capítulos.
ResponderExcluirphoto-and-coffee.blogspot.com
Posta mais!
ResponderExcluirAdoro ler os seus textos111
Quero saber a continuação
http://surejustnot.blogspot.com.br/
Cada vez melhor!! Posta mais, é legal acompanhar.
ResponderExcluirEscreve muito bem ;)
http://www.vicioemlivros.com/
Oi Tom!
ResponderExcluirAcho que nem preciso dizer, né?!
"Eu não sei como, mas eu sinto Ele." É exatamente isso, você não precisa usar nenhum dos seus cinco sentidos para acreditar em um ser superior que rege tudo que conhecemos, só precisa... sentir.
Parabéns, mais uma vez!
Abraços ♥